sábado, 6 de junho de 2009

DIA MUNDIAL DA POESIA - 2007


Março de 2007

Professores dinamizadores: Helena Caldeira; Isabel Maia; Luísa Mendonça; Manuel Gama; Mª do Céu Ferreira.

Sessão de leitura de poesia, com participação aberta, na biblioteca da escola. Leituras individuais e colectivas (alunos de 2º/3º ciclos e secundário) de textos escolhidos pelos alunos e professores da Oficina.


POEMA PIAL
Casa Branca – Barreiro A

Toda a gente que tem as mãos frias
Deve metê-las dentro das pias.

Pia número UM,
Para quem mexe as orelhas em jejum.

Pia número DOIS,
Para quem bebe bifes de bois.

Pia número TRÊS,
Para quem espirra só meia vez.

Pia número QUATRO,
Para quem manda as ventas ao teatro.

Pia número CINCO,
Para quem come a chave do trinco.

Pia número SEIS,
Para quem se penteia com bolos-reis.

Pia número SETE,
Para quem canta até que o telhado se derrete.

Pia número OITO,
Para quem parte nozes quando é afoito.

Pia número NOVE,
Para quem se parece com uma couve.

Pia número DEZ,
Para quem cola selos nas unhas dos pés.

E, como as mãos já não estão frias,
Tampa nas pias!


MOITA!
(Silêncio na estação, à vontade do freguês)

Fernando Pessoa






A TRISTE HISTÓRIA DO ZERO POETA

Numa certa conta havia
um zero dado à poesia
que tinha um sonho secreto:
fugir para o alfabeto.

Sonhava tornar-se um O
nem que fosse por um dia só,
ou ainda menos: só
o tempo de dizer: «Oh!»

(Nos livros e nas selectas
o que mais o comovia
eram os «Ohs!» que os poetas
metiam nas poesias!)

Um «Oh!» lírico & profundo,
um só «Oh!» lhe bastaria
para ele dizer ao mundo
o que na alma lhe ia!

E o que na alma lhe ia!
Sonhos de glória, esperanças,
ânsias, melancolia,
recordações de criança;

além de um grande vazio
de tipo existencial
e de uma caixa que um tio
lhe pedira para guardar;

e ainda as chaves do carro
e uma máscara de entrado…
Não tinha bolsos, coitado,
guardava na alma tudo!

A alma! Como queria
gritá-la num «Oh!» sincero!
Mas não passava de um zero
que, oh!, não se pronuncia…

Daí que andasse doente
de grave doença poética
e em estado permanente
de ansiedade alfabética.

E se indignasse & etc.
contra o destino severo
que fizera dele um zero
com uma alma de letra!

Tanta ambição desmedida,
tanto sonho feito pó!
E aquele zero dava a vida
para poder dizer «Oh!»…


Manuel António Pina
Neste dia, ainda, vários alunos ofereceram excertos de poemas a toda a comunidade escolar.

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