Há poesia em tudo – na terra e no mar, nos lagos e nas margens dos rios. Há-a também na cidade – não o neguemos – facto evidente para mim enquanto aqui estou sentado: há poesia nesta mesa, neste papel, neste tinteiro; há poesia na trepidação dos carros nas ruas; em cada movimento ínfimo, vulgar, ridículo, de um operário que, do outro lado da rua, pinta a tabuleta de um talho. (…) Existe para mim – existia – um tesouro de significado numa coisa tão ridícula como uma chave, um prego na parede, os bigodes de um gato. (…) é que a poesia é espanto, admiração, como de um ser tombado dos céus em plena consciência da queda, atónito com as coisas.
Criação de um novo painel ... Pessoa por Pessoa...
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Copia mais, sem canseira,
Copia, pilha, retém.
É a única maneira
De não escreveres asneira.
Aquece ao passado,
Que o presente é só uma rua onde passa quem me esqueceu…
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro…
É a hora!
Por mim, antes de conhecer Caeiro, eu era uma máquina nervosa de não fazer coisa nenhuma.
Os feijões dos jogos de mesa da minha infância varrida.
Comprem chocolates à criança a quem sucedi por erro.
E tirem a tabuleta porque amanhã é infinito.
Tenho que arrumar a mala de ser.
Tenho que existir a arrumar malas.
Vou definitivamente arrumar a mala.
Mais vale arrumar a mala.
Fim.
Eu sou um internado num manicómio sem manicómio.
Dá-me lírios, lírios,
E rosas também.
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também,
Crisântemos, dálias,
Violetas, e os girassóis
Acima de todas as flores…
O binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo.
O que há é pouca gente para dar por isso.
Óóóó – óóóóóóóó – óóóóóóóóóóóóóóó
(O vento lá fora).
Já disse: sou lúcido.
Nada de estéticas com o coração: sou lúcido.
Fazei de mim qualquer coisa como se eu fosse
Arrastado – ó prazer, ó beijada dor! –
Mas isto no mar, isto no ma-a-a-ar! EH-EH-EH-EH-EH-EH! No MA-A-A-A-AR!
Grita tudo!
FIFTEEN MEN ON THE DEAD MAN’S CHEST.
YO-HO-HO AND A BOTTLE OF RUM!
Parte-se em mim qualquer coisa. O vermelho anoiteceu.
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Arre, sentir cansa, e a vida é quente quando o sol está alto.
Boa noite na Austrália!
Gozo tudo isso como quem sabe que há o Sol.
Leio e sou límpido nas minhas intenções;
Tirando-lhes o chapéu largo.
Ai de ti e de todos que levam a vida
A querer inventar a máquina de fazer felicidade.
Uma vez amei, julguei que me amariam,
Mas não fui amado.
Não fui amado pela única grande razão –
Porque não tinha que ser.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.
Da mais alta janela da minha casa
Com um lenço branco digo adeus
Aos meus versos que partem para a humanidade.
Amar é a eterna inocência
E a única inocência é não pensar…
Coroai-me de rosas
E de folhas breves
E basta.
Senta-te ao sol. Abdica
E sê rei de ti próprio.
Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é sombra
De árvores alheias.
Cumpramos o que somos.
Nada mais nos é dado.
Quer pouco: terás tudo.
Quer nada: serás livre.
Teu exagera ou exclui.
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