sábado, 13 de junho de 2009

INFINITA VIAGEM II

«SE DEPOIS DE EU MORRER, QUISEREM ESCREVER A MINHA BIOGRAFIA,
NÃO HÁ NADA MAIS SIMPLES.
TEM SÓ DUAS DATAS - A DA MINHA NASCENÇA E A DA MINHA MORTE.
ENTRE UMA E OUTRA TODOS OS DIAS SÃO MEUS.»

Alberto Caeiro


Apesar da recomendação de Caeiro, num trabalho intitulado A ARCA DE PESSOA, pretendeu-se dar a conhecer ou revisitar a vida do Poeta que ainda nos sussurrava... "Cada pessoa é apenas o seu sonho de si própria. Eu nem isso sou."/ "A vida passa entre viver e ser."


Mesmo assim, continuou-se...

(um encontro com Pessoa pode ser muito perturbador!)

...e porque a sua biografia não teria sentido senão em função da sua obra, muitas palavras, expressões, frases, poemas foram passando, durante uma semana, pelo átrio da nossa escola.



















AS MÁSCARAS

«Lembro, assim, o que me parece ter sido o meu primeiro heterónimo, ou antes, o meu primeiro conhecido inexistente – um certo Chevalier de Pas dos meus seis anos, por quem escrevia cartas dele a mim mesmo, e cuja figura, não inteiramente vaga, ainda conquista aquela parte da minha afeição que confina com a saudade. Lembro-me, com menos nitidez, de uma outra figura, cujo nome já me não ocorre mas que o tinha estrangeiro também, que era não sei em quê, um rival do Chevalier de Pas… Coisas que acontecem a todas as crianças? Sem dúvida – ou talvez. Mas a tal ponto as vivi que as vivo ainda, pois que as relembro de tal modo que me é mister um esforço para me fazer saber que não foram realidades.
E assim arranjei, e propaguei, vários amigos e conhecidos que nunca existiram, mas que ainda hoje, a perto de trinta anos de distância, oiço, sinto, vejo. Repito: oiço, sinto, vejo… E tenho saudades deles.»

Pessoa, Excerto de Carta a Adolfo Casais Monteiro


Imagens do CRIADOR, ele mesmo, e das suas CRIATURAS/MÁSCARAS, ramificações nos outros, acompanharam as palavras.
















[Trabalho realizado por Helena Caldeira]

«O que sou essencialmente – por trás das máscaras involuntárias do poeta, do raciocinador e do que mais haja – é dramaturgo. O fenómeno da minha despersonalização instintiva, a que aludi em minha carta anterior, para explicação da existência dos heterónimos, conduz naturalmente a essa definição. Sendo assim, não evoluo: VIAJO. (Por um lapso da tecla das maiúsculas, saiu-me sem que eu quisesse essa palavra em letra grande. Está certo, e assim deixo ficar.) Vou mudando de personalidade, vou (aqui é que pode haver evolução) enriquecendo-me na capacidade de criar personalidades novas, novos tipos de fingir que compreendo o mundo, ou, antes, de fingir que se pode compreendê-lo. Por isso dei essa marcha em mim como comparável, não a uma evolução, mas a uma viagem: não subi de um andar para outro, segui, em planície, de um para outro lugar.»

PESSOA, Excerto de Carta a Adolfo Casais Monteiro

Sem comentários:

Enviar um comentário