NÃO HÁ NADA MAIS SIMPLES.
TEM SÓ DUAS DATAS - A DA MINHA NASCENÇA E A DA MINHA MORTE.
ENTRE UMA E OUTRA TODOS OS DIAS SÃO MEUS.»
Alberto Caeiro
Apesar da recomendação de Caeiro, num trabalho intitulado A ARCA DE PESSOA, pretendeu-se dar a conhecer ou revisitar a vida do Poeta que ainda nos sussurrava... "Cada pessoa é apenas o seu sonho de si própria. Eu nem isso sou."/ "A vida passa entre viver e ser."
Mesmo assim, continuou-se...
(um encontro com Pessoa pode ser muito perturbador!)
...e porque a sua biografia não teria sentido senão em função da sua obra, muitas palavras, expressões, frases, poemas foram passando, durante uma semana, pelo átrio da nossa escola.
(um encontro com Pessoa pode ser muito perturbador!)
...e porque a sua biografia não teria sentido senão em função da sua obra, muitas palavras, expressões, frases, poemas foram passando, durante uma semana, pelo átrio da nossa escola.
AS MÁSCARAS
«Lembro, assim, o que me parece ter sido o meu primeiro heterónimo, ou antes, o meu primeiro conhecido inexistente – um certo Chevalier de Pas dos meus seis anos, por quem escrevia cartas dele a mim mesmo, e cuja figura, não inteiramente vaga, ainda conquista aquela parte da minha afeição que confina com a saudade. Lembro-me, com menos nitidez, de uma outra figura, cujo nome já me não ocorre mas que o tinha estrangeiro também, que era não sei em quê, um rival do Chevalier de Pas… Coisas que acontecem a todas as crianças? Sem dúvida – ou talvez. Mas a tal ponto as vivi que as vivo ainda, pois que as relembro de tal modo que me é mister um esforço para me fazer saber que não foram realidades.
«Lembro, assim, o que me parece ter sido o meu primeiro heterónimo, ou antes, o meu primeiro conhecido inexistente – um certo Chevalier de Pas dos meus seis anos, por quem escrevia cartas dele a mim mesmo, e cuja figura, não inteiramente vaga, ainda conquista aquela parte da minha afeição que confina com a saudade. Lembro-me, com menos nitidez, de uma outra figura, cujo nome já me não ocorre mas que o tinha estrangeiro também, que era não sei em quê, um rival do Chevalier de Pas… Coisas que acontecem a todas as crianças? Sem dúvida – ou talvez. Mas a tal ponto as vivi que as vivo ainda, pois que as relembro de tal modo que me é mister um esforço para me fazer saber que não foram realidades.
E assim arranjei, e propaguei, vários amigos e conhecidos que nunca existiram, mas que ainda hoje, a perto de trinta anos de distância, oiço, sinto, vejo. Repito: oiço, sinto, vejo… E tenho saudades deles.»
Pessoa, Excerto de Carta a Adolfo Casais Monteiro
Imagens do CRIADOR, ele mesmo, e das suas CRIATURAS/MÁSCARAS, ramificações nos outros, acompanharam as palavras.
[Trabalho realizado por Helena Caldeira]
«O que sou essencialmente – por trás das máscaras involuntárias do poeta, do raciocinador e do que mais haja – é dramaturgo. O fenómeno da minha despersonalização instintiva, a que aludi em minha carta anterior, para explicação da existência dos heterónimos, conduz naturalmente a essa definição. Sendo assim, não evoluo: VIAJO. (Por um lapso da tecla das maiúsculas, saiu-me sem que eu quisesse essa palavra em letra grande. Está certo, e assim deixo ficar.) Vou mudando de personalidade, vou (aqui é que pode haver evolução) enriquecendo-me na capacidade de criar personalidades novas, novos tipos de fingir que compreendo o mundo, ou, antes, de fingir que se pode compreendê-lo. Por isso dei essa marcha em mim como comparável, não a uma evolução, mas a uma viagem: não subi de um andar para outro, segui, em planície, de um para outro lugar.»
PESSOA, Excerto de Carta a Adolfo Casais Monteiro
PESSOA, Excerto de Carta a Adolfo Casais Monteiro
Sem comentários:
Enviar um comentário